O populismo de Nayib Bukele como uma política de inimizade

Resumo

Este artigo analisa o governo autocrático de Nayib Bukele em El Salvador como um caso exemplar do surgimento de novos governos de direita radical populista na América Latina. O caso é analisado a partir da convergência de sete abordagens teóricas sobre o populismo e sua relação com a direita radical. Apelando à pluralidade teórica, buscou-se integrar marcos conceituais que permitissem entender como a dicotomia amigo/inimigo se configura no discurso populista de Bukele. A partir de uma abordagem qualitativa e processual, identificam-se momentos chave no processo de transformação política. O caso analisado é relevante porque mostra como o populismo de direita pode transitar para formas de governo autocráticas. As dinâmicas de concentração de poder no Executivo e a eliminação progressiva dos pesos e contrapesos democráticos, bem como a instauração de um regime de exceção em El Salvador, fornecem elementos para compreender a maneira como os populismos de direita adquirem características ditatoriais. A análise destaca que, embora o populismo tenha sido uma categoria chave para explicar a dinâmica desses regimes, no caso de Bukele, seu uso se mostra insuficiente. A confrontação dos pressupostos teóricos com o caso sugere que é mais adequado caracterizar seu governo como um regime que reedita outros autoritarismos históricos.