UPERANDO A ANTÍTESE CIDADE/NATUREZA: PLANEJAMENTO AMBIENTAL DOS QUINTAIS DE PIRAJÁ (SALVADOR, BAHIA)

Auteurs

  • Fábio Angeoletto
  • Marta Moreno
  • Patricia Guimaraes Pinheiro
  • Sara Barrasa Garcia

DOI :

https://doi.org/10.25247/2447-861X.2007.n228.p74%20-%2083

Résumé

Os últimos anos registram um crescente interesse por um corolário de questões conhecido como Problemática Ambiental. Ressalte-se que tal interesse não é manifestado apenas por parte das universidades e dos institutos de pesquisa, mas também por outros setores da sociedade, como as Organizações Não-Governamentais (ONGs). No discurso dessas entidades ambientalistas, uma grande ênfase é dada às questões ecológicas globais, como a destruição da camada de ozônio e o desmatamento das florestas tropicais, entre outras. Entretanto, pouco se discute sobre as cidades, como se seus problemas não guardassem relação com a preservação do ambiente: seriam problemas urbanos; inerentes à urbanização, e não problemas ambientais. É ainda corrente a idéia de natureza como natureza bruta ou museu natural. Ocorre que, como afirma Anne Spirn (1995: 20), não existe natureza em estado puro, e mesmo os mais recônditos ecossistemas sofrem influência antrópica, direta ou indireta. O cidadão comum partilha desse ideário: para ele, a natureza situa-se fora dos limites da cidade: são as praias paradisíacas que o recebem nas férias ou a mais inatingível floresta tropical, salva da mácula do urbano. Assim, no imaginário da sociedade brasileira a questão ambiental refere-se a problemas de uma ordem distante, como as chuvas ácidas. Tim Campbell (1992: 191) não esconde a ironia dessa situação distorcida: enquanto problemas imediatos, circunscritos ao ambiente mais próximo (a casa, o bairro), como a falta de saneamento, são freqüentemente ignorados por grupos ambientalistas e poderes públicos, as atenções internacionais voltam-se para questões como o buraco na camada de ozônio. Quando o tema Ecologia é mencionado, salta aos olhos o fato de que poucas referências são feitas ao problema árboreo nas cidades, como se os problemas ecológicos só existissem fora do perímetro urbano. Quando há, o planejamento é pouco eficiente no tocante ao aumento e conservação das árvores urbanas. Em suma, enquanto cresce a preocupação com o ambiente, ainda enxerga-se a cidade como um lugar de negação da natureza. Entre os urbanistas também persiste a crença de que cidades são a antítese da natureza. Essa crença dominou a forma pela qual a cidade é percebida e continua a afetar a forma como ela é construída. Nas palavras da bióloga Maria Angela Leite (1994: 140), as práticas do urbanismo não fazem uso do conjunto de características naturais e sociais de um lugar – da natureza desse lugar – para avaliar, selecionar, emitir juízo ou implantar concepções de organização urbana, mas parecem procurar perpetuar, numa atitude temerária, a reprodução de modelos parciais, generalizantes e dogmáticos que, apesar de reduzir a natureza ao urbano, não têm a capacidade de integrar o natural e o construído A negação da cidade como uma parte da natureza constitui o que Antonio Carlos Diegues (1996: 13) classifica como mito moderno da natureza intocada. O conceito de natural/selvagem é fundamentalmente uma percepção urbana. Daí a dicotomia urbano/natural, constituindo o natural aquelas áreas que devem ser preservadas como templos intocáveis. O ideário a que se refere Diegues transparece na análise feita por ele em documentos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) dos anos 80, onde descobriu-se que a referida instituição propunha até mesmo a retirada de populações tradicionais (como ribeirinhos, caiçaras e indígenas) das reservas ecológicas, ignorando o conhecimento e manejo centenários das florestas que esses povos possuem.

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Publiée

2016-06-17

Comment citer

Angeoletto, F., Moreno, M., Pinheiro, P. G., & Garcia, S. B. (2016). UPERANDO A ANTÍTESE CIDADE/NATUREZA: PLANEJAMENTO AMBIENTAL DOS QUINTAIS DE PIRAJÁ (SALVADOR, BAHIA). Cadernos Do CEAS: Revista crítica De Humanidades, (228), 74–83. https://doi.org/10.25247/2447-861X.2007.n228.p74 - 83

Numéro

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