MUROS MÓVEIS: SEGURANÇA HÍBRIDA, PRIVATIZAÇÃO E EXCLUSÃO REATIVA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS NO CARNAVAL
DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2025.n264.p177-213Palavras-chave:
Carnaval, Segurança híbrida, Táticas coercitivas, Privatização dos espaços públicos, Exclusão reativaResumo
O trabalho discute as formas e as consequências da atuação das firmas de segurança híbrida, no policiamento do Carnaval e dos desfiles dos grupos organizados ou blocos carnavalescos pelos espaços públicos. Analisa dados provenientes de entrevistas, observação direta e participantes. Argumenta que estas firmas acionam táticas duras ou coercitivas para garantirem o bem-estar dos foliões associados, bloquearem o acesso aos perímetros internos dos blocos, dificultarem a permanência e até obstruírem a circulação dos foliões não associados (ou pipocas) nos espaços públicos. Afirma que esta governança, mediante a regulação e controle de espaços e fluxos de pessoas, está fundada em poderes de exclusão, rejeição e remoção de indivíduos e grupos que diluem os limites divisórios entre os modos públicos e privados de regulação destes espaços. Defende a ampliação e o aprofundamento de medidas, visando a prestação de contas das modalidades estatais e não estatais de provisão de segurança, a descentralização espacial, a redução da densidade e a melhoria da gestão da multidão, a fim de aumentar a segurança para os amplos segmentos de foliões do Carnaval de Salvador.
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