MÍDIA E NECROPODER: UMA INSTÂNCIA PEDAGÓGICA DO CENÁRIO DE MORTE

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25247/2447-861X.2025.n264.p146-176

Palavras-chave:

Pedagogias de Morte e Resistência, Estudos Culturais, Necropolítica, Pedagogia da Mídia

Resumo

As representações midiáticas frequentemente associam a população negra a comportamentos violentos ou marginalizados, reforçando a ideia de criminalidade e justificando a atuação policial como uma resposta necessária. Essa construção social não apenas desumaniza os jovens negros, mas também contribui para um ciclo de opressão que se manifesta em políticas públicas e práticas policiais. Este texto, recorte da pesquisa de Mestrado, visa compreender as narrativas midiáticas sobre ser jovem negro presentes no Portal G1 - sob a perspectiva da “Pedagogia de Morte e Resistência” (Silva, 2024). Foram reunidas 14 matérias do Portal, abordando o assassinato de jovens negros pelas polícias do Rio de Janeiro, considerado-o um território em disputa, marcado pelo necropoder (Mbembe, 2018). Amparados nos Estudos Culturais em Educação, utilizo o conceito de dispositivo pedagógico da mídia (Fischer, 2007) para apontar os espaços midiáticos como lócus de produção e circulação de conhecimento. A metodologia se baseou na análise cultural, tratando as notícias como artefatos que moldam a “realidade”. As análises destacam o cotidiano das juventudes negras e sua relação com a morte, evidenciando como a mídia naturaliza os assassinatos. Aponta também como a “linguagem de ausências” impede a conexão dos assassinatos com um contexto de genocídio, ao ocultar a raça como marcador. Além disso, verifica-se que a estratégia de seleção ou omissão de imagens publicizadas não é ingênua, uma vez que atua perpetuando estereótipos. No entanto, há espaço para contra-representações, especialmente através das vozes das famílias das vítimas e da comunidade que se reverberam a partir das brechas do cenário necropolítico.

Biografia do Autor

Henrique Ferreira da Silva, Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS, Brasil.

Mestre em Educação do PPGEDU. Ulbra/Canoas.

Ricardo Willy Rieth, Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS, Brasil.

Doutor em Teologia e Professor do PPGEDU ULBRA/Canoas.

Deivison Moacir Cezar de Campos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- RS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Doutor em Ciência da Comunicação e Professor do PPGCOM PUC/RS.

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Publicado

2025-08-21

Como Citar

Silva, H. F. da, Rieth, R. W., & Campos, D. M. C. de. (2025). MÍDIA E NECROPODER: UMA INSTÂNCIA PEDAGÓGICA DO CENÁRIO DE MORTE. Cadernos Do CEAS: Revista crítica De Humanidades, 50(264), 146–176. https://doi.org/10.25247/2447-861X.2025.n264.p146-176

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