Chamada para o Dossiê: (SUB)DESENVOLVIMENTO E PROTAGONISMO DOS PAÍSES PERIFÉRICOS: AS MUDANÇAS ESTRUTURAIS GLOBAIS NO SÉCULO XXI E O SUL GEOPOLÍTICO

2025-12-17

O dossiê tem como objetivo discutir criticamente e problematizar os assuntos correlatos à seguinte temática: “(Sub)Desenvolvimento e Protagonismo dos Países Periféricos: as mudanças estruturais globais no século XXI e o Sul Geopolítico”.

Nesse sentido, almeja contemplar e publicizar centralmente artigos que resultem de investigações científicas desenvolvidas por pesquisadoras e pesquisadores ao redor do mundo, cujas abordagens estejam, de alguma maneira, relacionadas às questões do desenvolvimento e do subdesenvolvimento dos países periféricos na economia mundial do século vigente. Tendo em vista a importância crescente de tais países nos processos decisórios nas searas internacional e regional, serão bem-vindos artigos que versem sobre a participação desses países dentro do escopo referenciado acima, com vistas também a uma possível alternância hegemônica que urge dos tensionamentos econômicos e geopolíticos entre a China e os Estados Unidos da América (EUA). Os conteúdos dos artigos deverão conter, taxativamente e sem ordem de preferência, ao menos um dos temas listados abaixo:

  • Conjuntura geopolítica contemporânea;
  • Desenvolvimento e subdesenvolvimento nos países periféricos;
  • Comércio internacional e investimentos nas relações centro-periferia e periferia-periferia;
  • Perspectivas de integração regional nos países periféricos;
  • Velhas e Novas Organizações Internacionais na geopolítica contemporânea;
  • A presença de potências tradicionais e emergentes nos países periféricos: soberania ou dependência?;
  • O papel de liderança da China e a eventual existência de um Sul Geopolítico.

Justificativa

O ainda brevíssimo século XXI, apesar de não completos os seus 30 primeiros anos de percurso histórico-temporal, foi palco de diversas mudanças no cenário internacional. Ainda nas duas primeiras décadas, um turbilhão de eventos culminou em oscilações substanciais do sistema internacional. A Guerra no Iraque, a Guerra no Afeganistão, o boom das commodities, a crise econômica mundial de 2007-2008, a “onda roja”, a Primavera Árabe, a retomada política da extrema direita e a ascensão da China enquanto potência mundial são demonstrações de como, ao longo de pouco mais de 20 anos, o mundo passou por transições que, eventualmente, levaram e poderão levar a mudanças estruturais. Um ponto de confluência entre todos esses eventos, para além da evidente predominância internacional, sobretudo a nível das suas repercussões, é o fato de a presença dos países periféricos estar situada em todos eles, seja de maneira marginal ou contingencial, seja de maneira mais ativa e proeminente.

Assim, é preciso compreender a importância geopolítica de tais países atualmente. Após séculos de hegemonização dos processos decisórios por parte dos países centrais, as discussões sobre os rumos do mundo começam a emergir de maneira mais forte tendo como foco a análise dos países fora do eixo Europa-EUA. Desse modo, podemos ter como exemplo os debates sobre a integração regional da América Latina, culminando em iniciativas de graus de relevância política variadas, como criação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA). No continente africano, a Primavera Árabe foi a demonstração clara de como a soma das desigualdades socioeconômicas, da perpetuação de regimes autocráticos e da interferência imperialista central podem culminar em tragédias imensuráveis para os povos dos países periféricos.

Do ponto de vista das relações econômicas, os países periféricos, sobremaneira na América Latina e na África, foram alvo de cobiça em função de duas características intrínsecas aos seus territórios: a vastidão das terras e a presença em abundância de bens minerais e agrícolas. Essa situação culminou na explosão dos preços das commodities em função das necessidades de abastecimento de potências tradicionais e emergentes, levando ao redirecionamento pendular da atenção internacional, muito por conta da presença ativa da China nesse processo. Após um período de reformas de cunho mercadológico, a China passa por duas décadas de reestruturação produtiva e de integração internacional, chegando no século XXI como o concorrente inconteste dos EUA vis-à-vis os processos de hegemonia econômica e política.

Desse último ponto decorre a discussão sobre as relações comerciais e de investimento que a China vem desenvolvendo com a África e com a América Latina. Desde o princípio dos anos 2000, a China ocupa um papel cada vez mais relevante nas balanças comerciais e nas contas de capitais dos países periféricos, chegando a assumir a posição de maior parceiro comercial com nações do porte da brasileira, iraniana e sul- africana. Esse aprofundamento das relações econômicas não se deu de maneira incontroversa: apesar das promessas de desenvolvimento das forças produtivas, que emergiriam nos países periféricos com o auxílio do know-how chinês, aventa-se a possibilidade de perpetuação das relações desiguais e dependentes entre o país asiático e os países periféricos.

Por outro lado, a emergência dos BRICS enquanto bloco internacional é um tema ainda em aberto, mas que possibilita a análise a partir de diferentes perspectivas. Primeiro, pode ser um ponto de tensionamento ao antigo modelo de organizações internacionais constituído após o fim da Segunda Guerra Mundial que, apesar de englobar, formalmente, parte considerável dos países do sistema internacional, foi hegemonizado pelos países centrais. Por vezes, é visto como um bloco que, ao se manifestar internacionalmente como a concertação de países periféricos e/ou contra hegemônicos, pode servir como ponta de lança no que se refere ao tensionamento da supremacia monetária, bélica e ideológica dos EUA. Não obstante, dada a sua breve e ainda vacilante existência, é importante ter cautela para observar criteriosamente se as suas práticas, de fato, não evidenciam interesses de países com maior relevância geopolítica, como a China e a Rússia, em detrimento dos demais países componentes do bloco.

Por fim, destaca-se a possibilidade de compreender conceitualmente um “Sul- Geopolítico”, espaço que seria internacionalmente geográfico, mas também político, haja vista a ocorrência de similitudes estruturais entre países que não estejam situados, necessariamente, abaixo da linha do Equador e que, ao mesmo tempo, construam práticas de desenvolvimento frente a um horizonte comum: a emancipação dos povos e o bem- estar das populações ao redor do globo.

Coordenadores

Elsa Sousa Kraychete

Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), desde 2005, com graduação e mestrado em Economia, nesta mesma Universidade. É professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos da UFBA, atuando nos cursos de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) e Administração (NPGA). Coordenadora do Laboratório de Análise Política Mundial (LABMUNDO/UFBA).

Gustavo Melo Novais da Encarnação Lopes

Doutor em Administração pela Universidade Federal da Bahia (NPGA/UFBA). Doutorando e Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Bahia (PPGRI/UFBA). Bacharel em Humanidades (concentração em Estudos Jurídicos) pela Universidade Federal da Bahia (IHAC/UFBA). Pesquisador do Laboratório de Análise Política Mundial (LABMUNDO/UFBA). Professor do Ensino Básico e do Ensino Superior com experiência nas áreas das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Prazo para a submissão

Até 31 de março de 2026.

Diretrizes para a submissão 

https://portaldeperiodicos.ucsal.br/index.php/cad ernosdoceas/about/submissions