SOBRE AS EFICÁCIAS

Autores

  • Cláudio Perani

DOI:

https://doi.org/10.25247/2447-861X.2009.n233.p117%20-%20122

Resumo

Os apóstolos Pedro e João sobem ao Templo de Jerusalém para rezar. São seguidores de Jesus, que introduziu a Lei nova do amor, mas aceitam as estruturas religiosas do Templo. Diante da Porta Formosa, encontram um coxo que pedia esmola. Homem necessitado, como muitos outros, não tinha outra perspectiva ou esperança a não ser aquela da esmola. Vivia uma situação de dependência: daqueles que o traziam ao templo e daqueles que lhe davam esmola. É a situação da maioria do povo explorado, pobre e dependente. Pedro e João, homens simples e sem instrução na visão dos membros do Conselho Superior, diante do esmoleiro esquecem a oração, param e olham para ele, pedindo ao coxo a mesma coisa: “Olhe para nós!”. A relação entre os discípulos e o coxo sai do anonimato de mil casos semelhantes, torna-se pessoal, íntima e amiga. O homem olhou, esperando “receber algo”. Era a única esperança que tinha. Acostumado a receber esmola, não podia ter outras expectativas que o libertassem dessa sua dependência. Pedro e João não podem dar uma esmola. Eles também são pobres, não têm nem ouro nem prata. E se tivessem? Talvez teriam dado algo. Em todo caso, nesta situação de pobreza, são forçados a não dar coisas, apesar do pedido do caso, mas a dar algo de diferente, aquilo que tinham: a fé no nome de Jesus. No caso concreto, a fé em Jesus significa confiança no coxo. Pedro estende sua mão direita, oferece sua solidariedade e apela para a iniciativa do coxo: “Levante-se e ande!”. E o coxo deu um pulo e começou a andar! O resultado não é simplesmente uma ajuda que permite viver mais um dia, mas que não muda a situação crônica de dependência. É muito mais. É uma intervenção que rompe a estrutura de marginação. De agora em diante, a pessoa anda com suas pernas, não depende mais da esmola dos outros, criou confiança em si a partir da confiança nele depositada por Pedro. Esse é o grande “milagre”, que suscita admiração e espanto. Dar esmola era admitido como algo corriqueiro e normal, porque nada mudava na sociedade. Esse tipo de cura e de poder que desencadeia a autonomia do coxo tem influência sobre a sociedade toda. Suscita espanto, porque se percebe que mudam as relações de poder. E tem conseqüências: as autoridades e os professores da Lei ameaçam prender Pedro e João. Esse episódio bem conhecido, tirado dos Atos dos Apóstolos, nos introduz no tema dessas breves considerações: o problema das eficácias das ações que pretendem mudar o mundo. Desde já, podemos perceber a diferença entre uma eficácia mais limitada e provisória, aquela da esmola, e a eficácia da confiança dada ao coxo, que rompe sua situação de dependente. A conjuntura brasileira atual - de fome, miséria e desemprego - impõe com dramaticidade ainda maior o problema da eficácia: é necessário fazer algo, e de imediato, para combater a fome que está matando o povo. A sociedade está se mobilizando para isso. Multiplicam-se os comitês animados pela campanha da “Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida”, que - pela urgência da situação - quer dar comida para quem tem fome, aqui e agora, sem esquecer de atacar também as questões estruturais. A questão da eficácia deve interessar a todos. Neste tempo, parece fundamental e prioritária a ação, não tanto a reflexão te6rica. O importante é fazer algo, deixando de lado ou para outra oportunidade a discussão. Concordando com tal prioridade, constato ao mesmo tempo muitas iniciativas bem diversificadas entre si e, conseqüentemente, com diferentes eficácias. Por isso, é sempre necessário e útil avaliar as diversas orientações para esclarecer todas as ações e reconhecer as mais coerentes e mais lúcidas, na medida do possível. Quero limitar minhas considerações àquelas iniciativas no âmbito do movimento popular que pretendem favorecer o surgimento de uma nova sociedade. Representam um leque bem amplo de atividades a ser simplesmente relatado neste contexto. Trata-se de grupos de conscientização, de organizações de categoria, de projetos econômicos, de movimentos e campanhas, de escolas, de reivindicações, etc. Em particular, tomo em consideração a atuação de entidades de serviço, organizações não governamentais, pastorais, direções de movimentos, de associações e de órgãos de classe, na suposição de que aqueles que habitualmente chamamos de agentes de intervenção, assessores, intelectuais e lideranças tenham sua influência na orientação dos trabalhos.

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Publicado

2009-06-17

Como Citar

Perani, C. (2009). SOBRE AS EFICÁCIAS. Cadernos Do CEAS: Revista crítica De Humanidades, (233), 117–122. https://doi.org/10.25247/2447-861X.2009.n233.p117 - 122

Edição

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