OS HERÓIS QUE DETESTAVAM QUEM ELES DEVIAM SALVAR: O PARADOXO IDENTITÁRIO DAS CRIANÇAS-SOLDADOS NA GUERRA DE SERRA LEOA
DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2017.n241.p477-496Palavras-chave:
Crianças-soldados. Guerra civil. Identidade. Ishmael Beah. Serra Leoa.Resumo
Este artigo parte da leitura de Muito longe de casa: memórias de um menino-soldado, romance autobiográfico do serra-leonense Ishmael Beah, narrando sua experiência como criança-soldado do exército de Serra Leoa durante a guerra civil do país (1991-2002), para refletir sobre as identidades que são construídas nessa vivência traumatizante. Partindo do pressuposto de que a guerra civil trinca o discurso nacionalista, interessa verificar como essas identidades conformadas no cotidiano da guerra se articulam com a identidade nacional e a ressignificam. Nesse movimento, chama atenção o fato de o exército de Serra Leoa ter mobilizado garotos apelando a diversas identidades, inclusive à de heróis nacionais, mas obtendo como resultado final sujeitos que, na prática, detestavam os civis tanto ou quase tanto quanto desprezavam os rebeldes da Frente Revolucionária Unida (RUF). Sugere-se que o desatamento desse emaranhado identitário engendrado pela guerra seja um dos fatores que determinariam o êxito das políticas de DDR — desarmamento, desmobilização e reintegração social — voltadas para as crianças-soldados, realizadas entre 1996 e 2002. Um êxito que, para alguns analistas, não se verificou.
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