ANÁLISE PRELIMINAR DA POLÍTICA MACROECONÔMICA DOS GOVERNOS DE CENTRO-ESQUERDA NA AMÉRICA DO SUL 2003- 2015

Resumo

Não houve políticas macroeconômicas típicas dos governos de centro-esquerda na América do Sul no início do século XXI. Política fiscal expansionista foi o traço mais frequente, com base no auge de preços das commodities, o que nada tem de original, só que com ênfase nos gastos sociais, único componente de fato original. Apesar de posições ideológicas próximas, as políticas macroeconômicas de cada governo refletiram práticas e concepções tradicionais do país, seu modelo de política econômica e de desenvolvimento, mesmo tendo em conta a ambição das propostas de mudanças estruturais ou o grau de radicalização política. Constrangimentos e conflitos que cada governo enfrentou de início ou durante sua trajetória explicam pouco as opções de política macroeconômica. A ausência de diretrizes claras neste campo pode ser situada em grandes controvérsias: persistência na esquerda latino-americana de concepções que desconfiam da modernidade capitalista, suas instituições e práticas, o que leva à combinação de discurso radical contra "as elites" e "o sistema" com políticas econômicas pragmáticas ou de inspiração liberal; ausência de reflexão prévia sobre como governar, com pouco interesse pelas experiências da esquerda em situações semelhantes no passado; dificuldades para articular a gestão da economia com a viabilização de seus projetos de mudanças, mesmo que limitadas, como distribuir renda e melhorar as condições de vida da maioria. O tema é muito relevante, inclusive porque as dificuldades na gestão da economia tiveram grande peso nas dificuldades políticas de vários destes governos e na formação das circunstâncias que ajudaram o retorno de forças de direita e extrema-direita. O artigo é parte de projeto de pesquisa em andamento e apresenta análises e conclusões preliminares.