BOLSONARISMO COMO LINGUAGEM DA DESTRUIÇÃO: UMA CONVERSA SOBRE O MAL-ESTAR CIVILIZATÓRIO NO BRASIL RECENTE
DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n256.p318-345Palavras-chave:
Brasil recente. Bolsonarismo. Crise civilizatória. Desamparo. Linguagem.Resumo
Neste texto, que percebemos como uma escrita-conversa, buscamos mobilizar algumas inquietações sobre o mal-estar que permeia o Brasil recente. Considerando que Jair Bolsonaro, atual Presidente da República, nunca se absteve de manifestar apreço por práticas autoritárias e violentas durante a sua carreira política, o que inclui a campanha eleitoral de 2018, o nosso principal objetivo foi esboçar uma compreensão da crise civilizatória revelada e potencializada por seu governo. Uma das perguntas que orientou o nosso diálogo foi: o que levou – e tem levado – milhares de brasileiros a legitimar esse projeto ancorado em uma linguagem da destruição? Ao destacarmos a condição de desamparo do sujeito e o potencial destrutivo da linguagem como questões cruciais para se compreender a performance do mal no Brasil contemporâneo, argumentamos em favor da afirmação do desamparo como força produtiva para uma (re)elaboração crítica da complexa e trágica realidade que vivemos.
Referências
ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 2021 [1971].
ANDRADE, Marcelo. A banalidade do mal e as possibilidades da educação moral: contribuições arendtianas. Revista Brasileira de Educação, v. 15, n. 43, p. 109-125, 2010.
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
BALDAIA; Fabio P. Bastos; ARAÚJO, Tiago Medeiros.; ARAÚJO, Sinval Silva. O bolsonarismo e o Brasil profundo: notas sobre uma pesquisa. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador, 2021, p. 1-15.
BALLOUSSIER, Anna Virginia. Bolsonaro fez referência à área de desova de mortos pela ditadura. Folha de São Paulo, 29 dez. 2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/12/bolsonaro-fez-referencia-a-area-de-desova-de-mortos-pela-ditadura.shtml. Acesso em: 24/11/2020.
BARBOSA, Tereza Virgínia Ribeiro. A tragédia grega – consciência e aceitação do limite como meio de alcançar o conhecimento. Uniletras, n. 22, p. 25-40, 2000.
BRANCO, Felipe Castelo. O ódio como afeto político: sobre a construção do populismo de extrema-direita no Brasil. Psicanálise & Barroco em Revista, v. 17, n. 2, p. 64-95, 2019.
BIRMAN, Joel. Arquivos do mal-estar e da resistência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
BUTLER, Judith. Excitable speech: a politics of the performative. New York: Routledge, 1997.
BUTLER, Judith. Precarious lives: the power of mourning and violence. New York: Verso, 2004.
BUTLER, Judith. Frames of war: when is life grievable?. New York: Verso, 2010.
COVER, Robert. Violence and the word. Yale Law Journal, n. 95, p. 1601-1629, 1986.
EINSTEIN, Albert; FREUD, Sigmund. Um diálogo entre Einstein e Freud: por que a guerra? Santa Maria: FADISMA, 2005 [1936].
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005 [1970].
FREUD, Sigmund. Personagens psicopáticos no palco. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 [1906].
FREUD, Sigmund. Leonardo da Vinci e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 [1910].
FREUD, Sigmund. Totem e tabu. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 [1913].
FREUD, Sigmund. Os instintos e suas vicissitudes. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 [1915].
FREUD, Sigmund. Reflexões para os tempos de guerra e morte. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 [1915].
FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 [1927].
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 [1930].
FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer. In: FREUD, Sigmund. Obras completas (Vol. 14). São Paulo: Companhia das Letras, 2010 [1920].
FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. In: FREUD, Sigmund. Obras completas (Vol. 15). São Paulo: Companhia das Letras, 2010 [1921].
HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, n. 5, 07-41, 1995 [1988].
JUNIOR, Olavo B. de L. Eleições presidenciais: centralidade, contexto e implicações. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 14, n. 40, p. 11-30, 1999.
KINZO, Maria D’Alva G. A democratização brasileira: um balanço do processo político desde a transição. São Paulo em Perspectiva, v. 15, n. 4, p. 3-12, 2001.
MACHADO, Eliel. Mal-estar da democracia na América Latina: lutas e resistências hoje. Lutas Sociais, v. 15/16, p. 54-64, 2006.
MARCONDES, Danilo. As armadilhas da linguagem. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
MENEZES, Lucianne. Pânico: efeito do desamparo na contemporaneidade. Um estudo psicanalítico. São Paulo: Casa do psicólogo, 2006.
MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Linguística Aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo da. (Org.). Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. p. 85-107.
NEVES, Zuenir de Oliveira. Ditadura, anistia, memória e perdão: a batalha entre os que não querem lembrar e os que não podem esquecer. Themis, v. 10, p. 385-399, 2012.
PAVÓN-CUÉLLAR, David. O capital que gera sangue e lodo por todos os lados. In: PAVÓN-CUÉLLAR, David; JUNIOR, Nadir Lara. (Org.). Psicanálise e marxismo: as violências em tempos de capitalismo. Curitiba: Appris Editora, 2018. p. 17-30.
SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo. São Paulo: Cosac Naify, 2020.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006 [1916].
SMITH, David L. Less than human: why we demean, enslave, and exterminate others. New York: St. Martin’s Press, 2011.
SOUSA-SANTOS, Boaventura. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2002.
URZÊDA-FREITAS, Marco Túlio de. Sobre linguagens, corpos e (contra)políticas: praxiologias e letramentos queer em tempos sombrios. Muitas Vozes, v. 9, n. 2, p. 706-736, 2020.
ZIZEK, Slavoj. Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda., 1992.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à Cadernos do CEAS o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta Revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), desde que reconheça e indique a autoria e a publicação inicial nesta Revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer momento depois da conclusão de todo processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
















