A TEMÁTICA DO CANDOMBLÉ NO PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO NO GRAFITE EM SALVADOR

Autores

  • Valfrido Moraes Neto

DOI:

https://doi.org/10.25247/2447-861X.2008.n230.p52%20-%2061

Resumo

É possível que, transitando nas ruas da cidade de Salvador, você já tenha notado algum desenho de grafite com um orixá imponente segurando uma lança, um espelho ou um machado ornamentado por símbolos que remetem os transeuntes a objetos característicos da religião afro-brasileira dos candomblés. No meio urbano de símbolos visuais impregnados de imagens espalhados pelas avenidas urbanas, os grafites com os orixás chamam a atenção pela exuberância dos seus personagens, pelo colorido das suas vestimentas, adereços e objetos ligados à natureza e pelo tamanho que ocupam nos muros em lugares centrais da cidade. Eles se impõem à sua frente, seja na figura de Exu, Ogum, Oxum, Oxossi, ou mesmo na representação de todos juntos formando o Panteão dos Orixás, composta pelas mais conhecidas entidades, tendo ao centro a imagem de Oxalá, considerado o mais velho e respeitado entre todos. Os orixás aparecem sempre com posturas imponentes, esguios, fortes e joviais, de porte atlético, símbolo de força, vitalidade e beleza, semelhantes aos personagens das estórias em quadrinhos, que são humanos, mas, ao mesmo tempo, possuem poderes que os distinguem dos demais mortais. As imagens dos orixás grafitados nos muros da cidade certamente passam por um significativo processo criativo, conservando determinados traços que os caracterizam e (re)elaborando outros, modernizando-os, através dos traços delineados pela lata do spray manuseada pelas hábeis mãos dos grafiteiros. As entidades ostentam nos seus cabelos black (cheios, negros e crespos), principalmente as figuras femininas, ornamentos que lhes conferem uma altivez de realeza, de divindades, de deusas e deuses negr@s que dialogam com os seus referenciais de ancestralidade africana, com as forças da natureza e com as necessidades humanas de (re)ligar-se ao sagrado, às forças sobre-humanas, criadoras do Universo através das religiões (Figura 1). Os desenhos do grafiteiro Lee 27 que aqui serão analisados têm como tema central a simbologia da cultura afro-brasileira, mas fortemente emblemática no que se refere à população baiana, considerada o “berço” das tradições das religiões de matrizes africanas no Brasil. É nesse fluxo e refluxo entre Bahia e África, e principalmente entre a cidade de Salvador e a região do Recôncavo baiano, que a presença de elementos oriundos da religião do candomblé se configurou aqui na Bahia, particularmente devido ao grande número de escravos transportados para essas terras, originários de diversas nações africanas durante mais de três séculos de escravidão no país.

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Publicado

2008-06-17

Como Citar

Neto, V. M. (2008). A TEMÁTICA DO CANDOMBLÉ NO PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO NO GRAFITE EM SALVADOR. Cadernos Do CEAS: Revista crítica De Humanidades, (230), 52–61. https://doi.org/10.25247/2447-861X.2008.n230.p52 - 61

Edição

Seção

Artigos

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